segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Passos

 Ela caminha...apenas caminha...
 Talvez seja seu destino apenas passar pelas coisas. Ou talvez ela apenas não sabe como ficar...
 Sua estrada parece tão infindável, e de extrema importância. Essa estrada parece ser seu único elo por um vincado de sentimento de liberdade e de indeterminação, que a permite ainda ver seus muitos passos.
 Mesmo assim sua estrada parece outra. Tão distante dos primeiros passos. Tão mais difícil de percorrer...
 Agora, além de suas limitações, que a vida toda sempre foram uma preocupação, juntou-se-lhe agora a dimensão do tempo. Outras pessoas parecem ocupar a estrada. Pessoas que habitam seus passos, a percorrem, vivem pura e simplesmente nela.
 Mas para ela o caso pouco importa. Parece tão certo perceber que o desprendimento a toma, e assim ela passeia entre dois polos opostos, fato e ficção!
 Seus passos agora quebram o silêncio de seus pensamentos...Estão tão sincronizados uma sincronia marcada por cada batida de seu coração.
 Ela sente o vento que a atravessa, e preenche o vazio ao seu lado. Prá ela só resta caminhar...
 Esta é sua única certeza, sempre o mesmo caminho todos os dias, história retalhada que se converte em ironia ...rodeada de rostos e passos tão solitários.
 Esses passos já percorreram tanto, tantas ruas e vielas, que a fazem pensar estar andando em circulos. Mas seus passos nunca perdem o ritmo.
 Ela sente em suas veias pulsantes todas as aventuras desbravadas e os obstáculos contornados, com passos ligeiros e firmes de toda sua trajetória.
 De repente ela sente seus passos pesados, diminuindo, desanimando, até parar.
 Ela olha aos lados, só vê o nada...Ah! Seus pés dóem, e sentem um alívio quase que imediato, e quase num êxtase desfalece nos primeiros segundos de sua pausa. Toda sua perna parece agora bambear, não pode mais... Tão exausta!
 Mas ela precisa continuar. Como continuar?? Sua estrutura está abalada... Há muitos elementos que só fazem a tensão de seus pés aumentarem. Quem viu esses passos um dia tão largos, esperaria dela um charme mais de atores. Ela tenta...mas a dor...
 Ela não resiste, senta. Por um tempo incerto tudo à sua volta pára. Ela olha prá trás, mal se lembra de quando começou a caminhar. Mas as marcas nos pés, solas gastas, mostram muitas pedras pelo caminho. E ela só consegue pensar em como voltar ao ponto de partida. Ele não está lá. Ela só quer chegar em casa, mas só vê o horizonte à frente.
 Sente que está no meio do caminho e se sente ainda mais cansada. Sua dor aumenta. Não é uma dor física.  É muito mais que isso. Essa dor lateja sua vida, dependente daqueles passos tão impostos.
 Por um instante ela não pensa mais, e apenas se permite sentir... e sentir...
 Sente o ar de novo à sua volta. Folhas sendo sacudidas e derrubadas ao chão.
 Se dá conta de que nem percebera o tempo passar. foram só alguns minutos, que mais pareceram horas.
 Ela nunca quis perder os passos que ficaram prá trás. Sente vontade de correr agora, de voltar. Parecia tão mais seguro quando seus passos eram equilibrados por mãos.
 Sente o medo, muito mais medo de desistir agora e assim nunca então saber o que há pela frente. Ela foi e sempre será uma desbravadora.
 Então, toma folêgo, e começa de novo a caminhar, passo-a-passo, mesmo sabendo quão extenso, desconhecido seja o caminho, ele é também incrivelmente tentador!
 Comtempla as folhas pelo chão, sente o aroma do ar gelado e úmido da estação, e um delicado fio de sol que já se esconde, e a faz ver claramente que são esses os enfeites de seu caminho... e ela sorri!
 Sorri e chora, demasiadamente chora sorrindo, aquela nostalgia, aquele cansaço, e segue a passos lentos, mas confiante.
 E a cada passo à frente, vendo em seus olhos uma lição de vida. Que a vida sempre se renova...
 Ela percebe que não tem a ver com quantos passos, nem o ritmo deles, nem o trajeto...
 Mas que sem esses passos, no final não existiria o lugar de onde veio e nem prá onde seguir. E como chegar em casa está dentro de cada um...