Minha leitura está em pausa.
Meu olhar atravessa a janela, alaranjada pelo pôr-do-sol.
O vento que repousa no parapeito traz consigo a carícia do silêncio.
Vejo paisagens incríveis, só não ouço do que elas falam.
Em estado de surdez, tomada pela nostalgia, as vozes tornam-se murmúrios nas calçadas.
As horas se fazem fugitivas, e o tempo parece ancorado nos meus pensamentos.
Olhos no horizonte, imersos à minha imaginação já em câmera lenta.
Você em meus braços e o mundo inteiro desaparece. Uma música toca para dois. Tão próximos... Tão próxima, enquanto estou assim tão próxima de me sentir viva, e a vida passa...
Esses mesmos insigths românticos me fazem viver e morrer.
Nunca soube que a espera fosse tão presente. Quase acreditando que não é faz de conta. Sinto você ao meu lado. Posso ver onde chegamos, juntos. Tão longe e tão perto. Eu só não queria perdê-lo agora.
Me debruço sobre a janela. Sinto o seu corpo. Sem seu calor, sem o cheiro e sabor, reclamo baixinho. Deixo cair uma lágrima feito gota de chuva. Não! Eu não sou uma vítima e nem carrego karmas por gosto à dor. Mas sinto que corro em círculos, e como numa espiral, volto sempre prá dento de mim. Vivendo às voltas enquanto sou só lembranças, abraçada a um latente passado.
Refém do seu afeto. Aposto na saudade mais íntima prá te prender num apertado chamego de amor. Procurando espaço e me ajeitando prá sermos só um. De intenção, inicial, apenas recostamos sobre a cabeceira de alguma cama. Guardo meus pés entre suas coxas. Repouso minha mão no seu peito. E deixo minha alma sorver de tua essência, onde o tempo não existe e não me deixa só, com meu desejo num fim de tarde.
Acordo do meu delírio. De repente se fez noite. Fecho a janela, ainda sem saber o que digo prá mim, quando for me deitar e tentar me acostumar a não ter mais você, e buscar suas mãos até o amanhecer. E acordar sozinha com o coração batendo forte no meu seio!