terça-feira, 25 de outubro de 2011

O poeta, o copo e eu.



 Certa  vez conheci  um poeta.
 Estava triste,  arrastava-se em correntes.
 Suas dúvidas e inspirações  tinham um nome...
 Numa noite o poeta me disse que quando adentrou o mundo dos  ‘loucos de amor’,  as únicas coisas que ouvia eram:  que abrisse mão de seu amor platônico. Que aquele era um amor impossível. Fictício.
 Seu único estímulo era prá que encontrasse alguém, ou alguém a mais...
 Muitas vezes ouvia calado. Era recatado. Não entendia.
 Já descontrolado, desesperado, ele resolveu buscar apoio. Passou então se distrair com seus amigos, bebendo, cantando e chorando de bar em bar.
 Palavras lindas, possuidora de corpos encontrara na sua jornada, e  por míseros  segundos  lhe faziam esquecer  sua amada.
 Mas sua saudade não passava. Ninguém preenchia  como ela o espaço do seu âmago. Ela com seu brilho incomum, quando se enchia de cores,  se fazendo enfeite, lhe roubavam o fôlego, disparava  suspiros, e o revolvia de um ciúme que chegava  ante o dramático efeito  de suas fases.  Eram feitos um para o outro.  Acreditava o poeta! Ele lutara pelo direito a esse  estranho amor.
 Os dias passavam, e nas manhãs ele apenas soltava um tímido e ligeiro sorriso de canto de boca, e como quem procura o ar dentro dos pulmões, ele procurava pela chance de tê-la, e enchia-se  do otimismo de que chances  são sempre chances, ainda que pequenas. Ela cada vez mais condizente, naquele  silêncio consentia seus sentimentos,  sem esbravejar,  só distante, sempre distante.
 Cego, obstinado por aquele amor, toda sua esperança derramava-se  em angústia nas noites em que sua amada não aparecia. Com esse sentimento cada vez mais forte,  sua fuga era sempre atrás daquele copo.
 Era ela que ele queria. Era dela que ele precisava.
 Mas sem forças entregava-se, doses e mais doses chamando por seu nome...
 Quando, já embriagado, transformado, e sem respostas,  dizia absurdos prá esquecer do mundo. Depois em palavras chorava  e criticava a si próprio por ter tomado o primeiro copo.
 Vivia seus dois crimes  em liberdade, mas enclausurado  na prisão de suas fraquezas.
 Perdido, vagando na sarjeta da vida, seus sonhos agora se desmanchavam, antes mesmo de acontecer em seus poemas, trovas, crônicas...
 E sua mente em rendição, entre soluços e palavras, confessou-me como se sentia:

“-  Vou só. Por essa estrada em busca de alguém. A chuva fina que cai. O frio da madrugada que vem. E ao meu encontro, não encontro ninguém.
     Grito alto na calada da noite, em vão só escuto ecos no espaço.  O silêncio dói no meu peito.  Pois nunca a terei em meus braços. A minha amada. A lua.”